segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

TRANSIÇÕES OFENSIVAS: CARLOS CARVALHAL

14/01/2011
Preparação para o exame de capacidades motoras
Transições ofensivas! Ao iniciar esta reflexão sobre transições ofensivas, não me abandonava a ideia da indivisibilidade do jogo e em função disso na inoportunidade de falar sobre o “momento” de transição ofensiva. Não será mais oportuno falar de instante?
Hoje em dia é recorrente falar-se em transição ofensiva, mas tenho a convicção que este termo é, na esmagadora maioria das vezes, usado de uma forma inadequada. É comum as pessoas associarem este momento a saídas em ataque rápido ou contra-ataque. Penso que esta ideia surgiu pela vertigem contemporânea: pela velocidade e pela pressa!
Existem algumas divergências no que se refere à definição do que é o momento de transição ofensiva! Para uns é a forma como após se recuperar a bola, se age de uma forma colectiva até ao momento em que o adversário entre em equilíbrio. Para outros é apenas o instante em que a recuperas depois o critério que a equipa tem para dar sequência ao jogo entrando no momento de organização ofensiva.
Acho que por vezes este tipo de questões se tornam estéreis! O jogo é contínuo, onde começa e termina algo em algo que é iminentemente fluido vão existir sempre divergências de opinião. Assim sendo, vamo-nos concentrar e focar no preciso momento em que ganhamos a bola, nesse… instante!
A Transição ofensiva pode ser caracterizada pelo preciso instante em que se recupera a bola! O que fazer a partir deste instante? Sim instante!
É que a qualidade da transição ofensiva está intimamente relacionada com a qualidade do primeiro passe após recuperação da posse da bola. A partir daqui, normalmente define-se a forma como depois entras no outro momento de jogo, que é obviamente a organização ofensiva.
A definição do que se vai fazer após ganhar a bola depende de muitas coisas: em primeira instância das ideias do treinador (da forma como treina para jogar) e dos respectivos princípios de jogo inerentes à ideia de jogo; do local onde se conquista a posse da bola; muitas vezes condicionado pela gestão do jogo (resultado, tempo de jogo, cansaço, etc).
Imaginem um treinador que privilegia a posse da bola como método preferencial de jogo! A predominância dos instantes de transição ofensiva serão em “segurança”, ou seja, pretende retirar a bola rapidamente da zona de pressão (ou de elevada densidade de jogadores adversários), isto nas equipas de nível é conseguido através de um primeiro passe de grande qualidade. Esta saída da bola de zona de pressão não tem que se realizar no sentido da baliza adversária, ele pode ser lateral ou inclusivamente um passe para trás, de forma a potenciar a posse de bola, jogando-se em segurança. Os princípios e sub-princípios de jogo para o instante de transição ofensiva serão o de retirar a bola da zona de pressão, privilegiando a segurança do passe. Como exemplo podemos atentar como o Barcelona age no instante que ganha a posse da bola: primeiro passe sempre em segurança para fora da zona de pressão, segundo passe sempre a procurar segurança e o privilégio de manter a posse da bola, muitas vezes procurando a “desaceleração” do jogo.
Outro treinador, prefere um jogo mais “vertical”, procurando chegar o mais rapidamente à baliza adversária. Neste enquadramento, o primeiro passe neste vai ser predominantemente para a frente ou lateral para depois chegar rápido a linhas avançadas. Aqui os princípios e sub-princípios de jogo estarão intimamente ligados à velocidade do passe, bem como do deslocamento colectivo da equipa (no sentido da baliza adversária).
Veja-se como o Real Madrid age nos instantes de transição ofensiva: primeiro passe em segurança (por vezes lateral ou vertical no sentido da baliza contrária), sendo que na sequência deste passe sempre, com uma grande propensão de verticalidade colectiva, utiliza uma forte intensidade colectiva para chegar rapidamente à baliza adversária.
A definição do que fazer após a conquista a bola também pode depender do local onde se consegue fazer! Claro que neste caso estamos a falar na definição dos princípios do jogo preconizados pelo treinador e a propensão de acção tendo em conta o local do campo onde se conquista a bola.
Uma coisa poderá ser o recuperar-se a bola junto à própria grande área, outra poderá ser perto da baliza adversária. O Real Madrid tem uma definição muito clara de princípios de acção: ganhar a bola na zona intermediária do campo, ou no meio campo ofensivo, o que permite fazer transições ofensivas objectivas - procurando o desequilíbrio da equipa adversária. Já quando conquista a bola no seu meio campo defensivo (mais perto da sua área), as transições são muito mais “seguras”, procurando a equipa não perder a posse da bola nestas zonas do terreno.
Existem outros aspectos que poderão influenciar no tipo de acção a adoptar na forma como se “transita” para o ataque! Tendo em conta a estratégia que o treinador adopta para o jogo, pode fazer-se intencionalmente um tipo de transição diferenciada (ou não) em função do resultado e tempo de jogo, assim como pelo estado físico da equipa, no decorrer da partida! Imaginem uma equipa que privilegia o ataque rápido, e concomitantemente transições rápidas e verticais no sentido da baliza adversária! Está a vencer o jogo por 2 a 0 e a equipa a 10 minutos do final apresenta sinais evidentes de cansaço! Esta equipa pode estar preparada para modificar a propensão das suas transições privilegiando a segurança de passe e posse da bola.
Uma característica comum às equipas de grande nível é a segurança que evidenciam no primeiro passe é a eficácia com que saem das zonas de pressão. Pelo facto de ter feito um percurso com treinador desde a 3ª divisão até a um nível de grande exigência como no Sporting (percorrendo todas as divisões do Futebol Profissional), permite-me afirmar que quanto maior o nível, mais eficácia temos no primeiro passe e na forma como rapidamente saímos das zonas de pressão após ganharmos a posse da bola.
Depois, de acordo com os princípios de jogo da equipa, entramos no momento de organização ofensiva que pode ser de diversas formas.
Apesar de falarmos em “instante” e na importância da qualidade do “primeiro passe”, que estão ligadas a processos individuais (mais propriamente ao jogador que está em acção com a bola), tanto este, como todos os outros, estão subordinados a uma ideia comum (ideia de jogo da equipa) que tem princípios de jogo e sub-princípios para cada momentos e cada “instante”.
Ao falarmos de passe, tem obviamente que existir quem recepcione a bola e saiba o que fazer a seguir… Como em todos os momentos em futebol, o ideal é que TODOS os jogadores da mesma equipa pensem da mesma maneira em cada momento!

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