domingo, 9 de janeiro de 2011

ROTATIVIDADE: CARLOS CARVALHAL

Rotatividade!
Este é um dos temas do momento, principalmente em campeonatos onde existe uma forte densidade competitiva.
Qual a melhor forma de fazer esta gestão? Trocar jogadores de jogo para jogo será a melhor opção? Terão todos a mesma competência, de maneira a que a equipa apresente os mesmos níveis competitivos? Será mesmo este o verdadeiro problema da rotatividade de jogadores? Vamos tentar encontrar algumas respostas para as perguntas acima colocadas!
Toda a gente reclama mais competição, mas depois debate-se com o problema da gestão do plantel. A fórmula muitas vezes encontrada é a da rotatividade de jogadores. Ou seja, de jogo para jogo, ou pontualmente, substituem-se alguns jogadores por outros de forma a que uns possam descansar e manter outros em actividade.
Só que na prática, na esmagadora maioria dos casos isto não tem dado muito resultado. A desculpa é que o plantel não tem todo a mesma qualidade! Claro que num plantel nem todos têm a mesma qualidade, mas quantas vezes os jogadores que no inicio de época não se perfilham na nossa cabeça como primeira opção, acabam por ser titulares a época inteira? Muitas, de certeza absoluta! Este é sem duvida um problema, mas não me parece que seja o principal!
Noutras situações, é referida também a falta de ritmo competitivo de quem entra a jogar e não o tem feito com regularidade! Poderá ser um problema? Pode, mas nunca nos dois primeiros jogos, nestes, o jogador está com a motivação toda e sustém bem o ritmo desses jogos, a partir daqui se a gestão não for bem feita, é que poderá acusar fadiga! Contudo, o que resulta na prática é que muitas vezes se as coisas não correrem bem, estes jogadores que entram, acabam por não se fixar na equipa e voltam à condição de segundas opções.
Os treinadores referem muitas vezes que todos os jogadores estão preparados para jogar, porque treinam da mesma maneira. Conhecem os princípios e sub princípios de jogo da equipa e a sua dinâmica, e se tiverem que entrar na equipa não existe qualquer problema porque vão corresponder ao nível exigido. Claro que esta é uma verdade! Mas este tema levanta questões importantes.:
Os jogadores que entram na equipa, mesmo mantendo o sistema de jogo não vão acrescentar ou diminuir ao conjunto, pelo facto de terem características diferentes dos jogadores que vão substituir?
Será que as ligações, códigos sensoriais entre jogadores da equipa não vão ser afectadas?
Comecemos pela primeira questão!
Pensemos numa equipa que joga preferencialmente em 1.4.3.3, tem na sua dinâmica uma forte presença ofensiva do seu lateral direito, ao contrário do seu defesa lateral esquerdo que é mais “defensivo”. A alternativa a este defesa lateral direito é um jogador menos acutilante no ataque! Parece-me óbvio que, mesmo conhecendo os princípios e a dinâmica da equipa, este jogador no mesmo sistema “alterará” a dinâmica da mesma. Não poderemos especular se para melhor ou pior, mas podemos convictamente dizer que será necessariamente diferente. Podemos ficar com a ideia de que muitas vezes alterar um jogador poderá significar uma alteração muito grande na dinâmica. E dois, três, quatro ou cinco…?
Ao responder à segunda questão parece-me possível encontrar as respostas fundamentais para os problemas da rotatividade.
Sou muitas vezes questionado por jovens que querem ser treinadores, qual o caminho que devem trilhar para chegar a ser profissionais. A todos respondo, joguem, conheçam o jogo por dentro! Sem esse conhecimento, da sua natureza, a sua aleatoriedade, os seus códigos sensoriais, dificilmente conseguem lá chegar…. Códigos sensoriais!!! O que é isso?
É mais um dos “segredos de balneário” que legitimamente muitos treinadores guardam e que revela o conhecimento do jogo! Pela sua prática, percebem desde cedo que existem sinais entre jogadores que se revelam importantíssimos na dinâmica de uma equipa. Vulgarmente podemos definir como parte integrante do “entrosamento”.
Para além dos princípios, sub-princípios e sub dos sub-princípios de jogo, existem códigos entre jogadores que se vão criando pela habituação, pelo treino e pelo tempo. Como sabemos, devido à sua aleatoriedade, os timings no futebol são importantíssimos para agir num determinado instante, perante uma qualquer dificuldade! Pois bem, esses timings têm imenso de “linguagem sensorial”: a posição do corpo quando esboça um movimento e é interpretado pelo colega; a posição da suas mãos emitindo um sinal para um determinado tipo de acção; a voz a pedir a bola num momento preciso; o ouvir de um sinal para fazer uma determinada acção, sem necessitar de ver o colega, porque sabe onde está e o que vai fazer…
Querem um exemplo prático? Jogava eu com 19 anos na 1 liga no Desportivo de Chaves! Como médio interior direito jogava Paulo Rocha, jogador com uma capacidade de passe impressionante, e como extremo direito António Borges, muitíssimo rápido e possante. Sabem como o Borges comunicava com o Paulo?
Bastava o Paulo ter a bola e o Borges assobiar e mesmo sem ver onde estava o colega (porque sabia onde estava e para onde se desmarcava) passava-lhe a bola em profundidade com uma precisão impressionante!
Estes sinais de diversa ordem criam-se na esmagadora das vezes sem a intervenção do treinador, faz parte do dialecto de acção dos jogadores.
O futebol é um jogo de enganos, e esta é uma das formas que os jogadores encontram para no terreno de jogo enganar os seus adversários.
Este é um código, um sinal sensorial acústico! Como este existe uma infinidade de códigos que se criam com conhecimento mútuo, treino, tempo, habituação…
Pois bem, acho que agora estamos em melhor condição de aclarar o tema em questão! Mudar um jogador, como sabemos por vezes causa dano na dinâmica da equipa!
Mudar 5 ou 6, pelas características desses jogadores, diferentes dos outros, vai comprometer uma dinâmica fluida.
Tanto pelas diferentes características dos jogadores, como pela ausência natural de códigos sensoriais (“entrosamento”). Sendo assim podemos dizer que ao aumentar o grau de entropia, perdemos fluidez no sistema.
Mas então o que fazer?
Olhem para as equipas de Mourinho!! Disputa todas as competições a Top, muda muito pouco de jogadores e quando o faz não compromete a dinâmica. Para se conseguir andar a top em todas as competições em simultâneo, estamos a falar de um processo complexo, de competição, treino e recuperação… mas isso é outro tema!

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