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I. Introdução
"O jogo de futebol na actualidade é, indiscutivelmente a modalidade desportiva de maior impacto na sociedade, sendo resultado da sua popularidade e da sua universalidade. Todavia, é importante contrastar que a literatura do futebol, quer ao nível da bibliografia, quer ao nível de estudos de investigação aplicada, não ocupa um lugar tão primordial dentro do contexto desportivo, como o que é conferido ao próprio jogo. Esta constatação deve-se fundamentalmente ao abismo demasiado profundo entre a realidade actual do jogo e as fontes que procuram explicar a sua lógica interna." (Castelo, 1996)
Em Portugal, o Futebol assume, sem dúvida, o lugar de modalidade principal nos mais variados aspectos. Contudo, verifica-se que esta dimensão não é acompanhada pela investigação, nomeadamente no que respeita à investigação sobre a formação e o treino do Guarda-redes.
Assiste-se em Portugal, a uma discussão acesa sobre as novas metodologias de treino que são empregues nalgumas das principais do país, e aos resultados, que estas novas metodologias alcançam, quando em confronto com as metodologias ditas tradicionais.
Este trabalho está direccionado para uma área do conhecimento muito pertinente, uma nova metodologia que visa treino desportivo com jovens, nomeadamente numa função específica do jogo de Futebol que é o Guarda-redes.
1.1 Delimitação do problema
Quando se atenta e se envereda pela delimitação de um problema, qualquer que ele seja, procura-se, certamente, isolá-lo de forma clara, simples e completa a partir do objecto que o suscita. É alias da identificação prévia do problema que depende a sua própria solução (Brito, 1995).
Nos dias de hoje o Gr não ocupa, apenas, aquele lugar entre os postes, e cuja única missão era deter os remates da equipa adversária. Com a evolução que o jogo sofreu ao longo dos últimos anos, as responsabilidades do Gr tem sofrido algumas alterações.
No sentido de dar resposta a estas novas exigências impostas pelo jogo, torna-se fundamental dotar o Gr de capacidades que lhe permitam cumprir as suas novas funções de uma forma eficaz.
O meio de potencializar as capacidades no Gr é a sua formação desportiva. É este, pois, o objecto do nosso trabalho, a formação do Gr no Futebol moderno. Sabendo nós das dificuldade sentidas pelos clubes responsáveis por esta formação, nomeadamente a falta de pessoal especializado e equipas técnicas reduzidas em que raramente se disponibiliza alguém para este tipo de trabalho.
O Gr continua a ser resultado quase de uma geração espontânea e a sua formação continua a ser feita através de exercícios isolados da restante equipa, sendo apenas integrado quando a equipa realiza situações de jogo ou de "finalização".
1.2 Objectivos
Este documento, inserido no contexto referido atrás, tem como um dos seus objectivos realçar a importância da formação especifica do Gr de Futebol. Este realce surge de uma revisão bibliográfica que conduziu à (1) caracterização do Gr no futebol moderno, (2) diferenças entre exercícios específicos e especialização precoce, (3) caracterização do treino com jovens, (4) intervenção do treinador, (5) definição de gestos técnicos de base. Estes tópicos são fundamentais para a contextualização da formação ampla que se pretende dar e que vai de encontro ás novas exigências deste posto especifico.
Outros dos nossos objectivos é de propor alguns exercícios que permitam integrar a formação do Gr com a da restante equipa. Estes exercícios não pretendem dar respostas a todas as necessidades dos jovens praticantes, são apenas exemplos de operacionalização de uma metodologia, a nossa.
II. O Gr e o Futebol moderno
Tal como a sociedade, o Futebol tem evoluído ao longo da sua história. À semelhança das outras modalidades desportivas colectivas, esta evolução atingiu, nos últimos anos, níveis muito acentuados devido ao desenvolvimento verificado nos diferentes factores que influenciam o rendimento no Futebol (Esteves, 2000).
Para Cabezon (2001), um dos factores que mais influência o rendimento do Gr é o quadro regulamentar a que este está sujeito, isto é, as leis do jogo. As alterações a que as leis de jogo, referentes ao Gr, tem sido sujeitas atribuíram ao Gr mais responsabilidades e obrigações, contudo provocaram uma maior limitação na possibilidades de actuar do Gr.
O Futebol de hoje, o denominado "Futebol moderno", teve a sua origem em Inglaterra no ano de 1863, contudo só em 1871 surge no código das leis de jogo a primeira referência ao Gr, sendo que durante estes anos a defesa da baliza era feita por qualquer dos jogadores intervenientes. A partir de 1912 o Gr deixou de poder jogar a bola com os membros superiores fora da área de protecção dos atacantes (Esteves, 2000).
A regra dos quatros passos foi implementada mais tarde, por volta de 1991 (Cabezon, 2001). Em 1997 o Gr foi proibido de jogar a bola com as mãos quando esta é devolvida por algum dos companheiros com qualquer superfície corporal abaixo do joelho ou lançamento de linha lateral (Esteves, 2000)
De acordo com Esteves (2000) estas alterações que o Futebol moderno sofreu, foram com o intuito de melhorar a qualidade de jogo, através do incremento do ritmo que é disputado.
Segundo Cabezon (1997), os problemas técnico - táctico que as novas regras de jogo impõem, exigem um tipo de GR, em que a única missão não seja impedir o golo permanecendo entre os postes mas também que seja capaz de intervir na fase de ataque.
Cabezon (1997) refere ainda que, o Gr moderno está obrigado a intervir no plano técnico - táctica e na organização geral da equipa quer no ataque, quer na defesa. Esta intervenção faz-se, por exemplo, com a solicitação frequente do jogo de pés (quando os seus companheiros se encontram pressionados pelo adversário) ou jogando como libero (dando profundidade ao sector defensivo).
Perante este cenário, o Gr moderno terá de se adaptar, alterando os seus hábitos e apostar numa formação que vá de encontro às exigências das tarefas e funções que desempenha no Futebol moderno (Cabezon, 1997).
III. Diferença entre exercícios específicos e especialização precoce
Cada vez mais no Futebol, pelas suas características e evolução constante (quer das leis de jogo, quer das distâncias e ritmo do jogo), surge a necessidade da especificidade do trabalho (exercício), direccionado para as diferentes funções tácticas e orientado pelos princípios que dão corpo ao modelo de jogo adoptado. Neste contexto, o Gr assume um papel fundamental. É uma função táctica com exigências especificas e concretas necessitando, deste modo, de uma formação especifica e direccionada para as exigências que lhe são solicitadas pelo jogo.
Desde o momento que se iniciam na prática do Futebol, até atingirem um nível superior, os jovens futebolistas devem passar por um processo de formação coerente em que haja uma progressão da aprendizagem distribuída por diferentes etapas, com objectivos, estratégias e conteúdos adequados ás suas diferentes fases de desenvolvimento.(Pacheco, 2002)
3.1 Exercício especifico
De acordo com Castelo e colaboradores (1996), o treino é todo o processo que a ele está inerente, e que visa, pelos seus efeitos, uma adaptação dos praticantes ás condições que lhe são impostas pela competição, de modo a assegurar:
"O mais importante no treino é a selecção de exercícios e a execução dos que conduzem, sem falha, ao objectivo desejado" (Ozolin citado por Castelo e colaboradores,1996, pg.37).
Assim sendo, exercício é em última análise, a estrutura base de todo o processo responsável pela elevação, manutenção e redução do rendimento dos praticantes. O seu efeito deve-se fundamentar numa repetição lógica, sistemática e organizada que permita desencadear e orientar uma linha de actividade especifica (lógica interna) e idêntica à modalidade desportiva que se quer aprender, aperfeiçoar e desenvolver (Castelo, 1996).
Segundo Queiroz (1986) a especificidade do exercício provoca adaptações que são específicas ao tipo de exercício efectuado e não se limitam só a alterações fisiológicas, mas também implicações precisas dos factores técnicos, tácticos e psicológicos, e é o elemento principal requerido para obtenção do sucesso.
Oliveira (1991) refere que a especificidade apenas faz sentido se houver uma permanente e constante relação entre as diferentes componentes psico - cognitivas, técnico - tácticas, físicas e coordenativas, em correlação permanente com o modelo de jogo adoptado e os princípios que lhe dão corpo.
Ainda de acordo com o mesmo autor, a especificidade tem de passar a ser uma metodologia, uma forma de estar, essencialmente uma filosofia de treino, em que os objectivos e os conteúdos não basta serem situacionais, têm de que estar ligados a um processo em espiral que forma uma realidade muito própria. Assim sendo, não devemos encarar a especificidade como um fim em si mesmo, mas como uma forma de estruturação intimamente relacionada com o modelo de jogo, neste caso modelo de formação.
A importância do exercício especifico surge reforçada quando se pretende racionalizar o tempo de treino. Isto é, no sentido de maximizar os efeitos do treino, dentro dos limites temporais do processo de treino(quatro a cinco horas semanais),surge a necessidade de estimular capacidades especificas variadas, e para o efeito o exercício especifico apresenta-se como a solução mais favorável.
Neste sentido, é nossa convicção que na formação de um jovem para desempenhar a função de Gr é fundamental a utilização de exercícios específicos de modo a que este consiga desenvolver um conjunto de capacidades especificas que lhe permitam dar a melhor resposta perante o jogo.
Apesar da aplicação dos exercícios específicos é possível que o seu desenvolvimento motor, cognitivo e social seja abrangente, apenas lhe direcciona a sua formação para desempenhar uma função táctica especifica.
3.2 Especialização Precoce
No passado era frequente encontrar-mos situações em que eram aplicados modelos de treino a jovens praticantes como se estes se tratassem de adultos, com o objectivo de transformar esses jovens em pequenos campeões colocando em risco o desenvolvimento harmonioso do seu corpo e de uma potencial carreira desportiva. Aqui verifica-se uma clara especialização precoce em que o desenvolvimento desportivo do jovem não acompanha o seu desenvolvimento biológico.
De acordo com Marques (1999) este tipo de especialização desportiva caracteriza-se por cargas de treino muito intensas, que promovem rápidos desenvolvimentos da prestação desportiva nas fases iniciais, mas que levam a um esgotamento prematuro da capacidade de rendimento, promovendo aquilo que se designa por barreiras de desenvolvimento.
Segundo Añó (1997) a especialização precoce define a prática intensa, sistematizada e regular de crianças e jovens antes das idades consideradas normais. Este autor refere a especialização precoce como resultado da aplicação de sistemas de treino não adequados ou a utilização literal dos sistemas de treino dos adultos com crianças ou jovens. Ainda de acordo com este autor os períodos pubertário e pós-pubertário são indicados como as idades próprias para a especialização desportiva.
IV. Características metodológicas do treino com jovens
O treino com crianças e jovens é algo não consensual dentro do mundo do desporto. Desde as idades de iniciação da prática desportiva nas diferentes modalidades, passando pelos chamados "períodos óptimos" para a estimulação e desenvolvimento das diversas capacidades ( coordenativas e condicionais), verifica-se que a opinião de vários autores não é consensual (Añó, 1997).
Assim, neste capitulo pretendemos, caracterizar alguns aspectos de índole geral, sobre a conveniência do treino com crianças e jovens, algo necessário tanto do ponto vista da criação de um hábito desportivo próprio, como das idades de iniciação do treino e sobre as vantagens e desvantagens (riscos) do treino com crianças.
4.1 A idade de iniciação do treino com jovens
De forma um pouco geral é necessário, em primeiro lugar, por a descoberto as dúvidas existentes no que diz respeito à idade de iniciação ou começo do treino de crianças. Este aspecto, segundo Añó (1997),"marcará a duração da vida desportiva da pessoa em questão e condicionará também, os conteúdos da planificação".
Esta controvérsia é em parte motivada pelas diferenças entre uns desportos e outros; pelas próprias concepções do que deve ser o treino com jovens, segundo o campo profissional em que se movem uns e outros, fundamentalmente pedagogos e/ou treinadores.
4.2 Necessidade de um treino adequado
De acordo com Añó (1997), o treino é absolutamente necessário nos jovens. Os responsáveis pelo treino com jovens não podem ignorar a escassez de prática desportiva oficial disponível nas escolas, isto é, a Educação Física não proporciona aos jovens uma actividade física regular em qualidade e quantidade suficientes para desenvolver nos jovens o hábito de prática desportiva, a efectividade da aprendizagem e para a resolução dos problemas motores.
Deste modo, torna-se necessário prolongar a prática desportiva para horários extra lectivos (clubes), através do treino, no sentido de se detectar possíveis talentos desportivos, que através de um planeamento de treino consigam atingir o alto nível pelo desenvolvimento harmonioso das capacidades de rendimento especificas de cada modalidade (Añó, 1997). Assim, é de extrema importância que os jovens iniciem a actividade física nas idades apropriadas de acordo com os períodos sensíveis de cada capacidade de rendimento, sem contudo arriscar uma especialização precoce que de algum modo possa anular a capacidade de progressão posterior.
Segundo Añó (1997) o treino deve estar de acordo com a faixa etária dos jovens, isto é, o treino com jovens deve ser generalizado e multidisciplinar de forma a maximizar as aprendizagens motoras resultantes.
4.3 O treino de crianças deve-se planificar a longo prazo
De acordo com Añó (1997), o treino com crianças deve planificar-se a longo prazo, porque as crianças não podem alcançar o máximo rendimento em pouco tempo. O período de aprendizagem é demorado, inclusive nos desportos de alto rendimento com crianças (Ginástica).
Buceta (2001) refere como absolutamente conveniente definir o tempo que queremos dedicar a cada um dos blocos de exercícios, ao longo de cada época, no microciclo ou mesmo na sessão de treino.
Navarro, citado por Añó (1997), indica que se necessita de 6 a 10 anos para alcançar o alto rendimento desportivo, o que motiva que o treino com crianças se deva fazer tendo em conta esta perspectiva.
Cuesta (2001), diz-nos que um dos erros mais comuns é o de dividir a prática dos adultos em fatias e ir ensinando-as progressivamente, juntando em cada etapa um novo pedaço, na expectativa que no final o jogo seja reproduzido e os jogadores saibam jogar correctamente. Este autor refere que a solução adequada é pegar na globalidade do jogo e adapta-la às diferentes idades do processo de formação do jovem.
Cuesta (2001) propõe os seguintes elementos com determinantes para um modelo de planificação de treino com jovens, sendo fundamental que o treinador esteja consciente de que não existe uma solução única e universal e que se pode programar correctamente de várias maneiras :
Determinar etapas e fases que se adaptem ao momento evolutivo e que conduzam ao domínio do jogo através da obtenção de êxitos sucessivos;
Propor objectivos e conteúdos para cada fase;
Definir o momento de aplicação e a respectiva duração;
Seleccionar os métodos adequados;
Eleger as formas de avaliação;
Prever mecanismos de correcção e adaptação do processo.
Segundo Añó (1997), a planificação a longo prazo não se operacionaliza facilmente porque normalmente os treinadores não passam mais de dois anos com as mesmas crianças, ao contrário do que por vezes acontece com os adultos, perdendo-se então a perspectiva de longo prazo do treino com jovens.
V. Intervenção do treinador
Quem trabalha com jovens nunca se deve esquecer que eles estão a viver um processo de maturação física e mental, atravessando um momento importante da sua formação pessoal, não só desportiva como humana. Deste modo, o treinador de jovens tem de assumir um comportamento profissional, mesmo que não o seja, desenvolvendo um estilo de trabalho e de comportamento próprios e assumir as suas responsabilidades particulares. Não tem de imitar o treinador de atletas seniores ou de elite (Buceta, 2001).
As tarefas do treinador de jovens são um desafio permanente, aliciante e ao mesmo tempo recompensador. Trata-se de uma oportunidade de moldar as vidas de muitos jovens dos quais alguns poderão vir a chegar a ser campeões mas muitos nunca conseguiram viver esse momento (Campbell, 1998). Deste modo, temos que ter consciência que, de todos os jovens que treinamos quando somos treinadores de formação, poucos chegaram a pertencer à elite do desporto, daí que seja bastante importante utilizar a prática desportiva também como meio de socialização e formador de Homens
Outro aspecto importante para quem treina os jovens é o de compreender que cada atleta tem o seu próprio ritmo de progressão, pelo que o treinador tem de compreender bem o que está acontecer com cada um e aquilo que cada atleta precisa. Portanto é o treinador que tem de se adaptar aos atletas e não ao contrário (Buceta, 2001).
O treinador tem de possuir uma motivação equilibrada, tem de ter paixão pelo trabalho que realiza, mas essa paixão tem de ser controlada. O treinador não é um adepto mas sim um especialista, um conhecedor profundo do que deve ser feito (Buceta, 2001).
De acordo com Buceta (2001) a atitude construtiva dos treinadores de jovens deve reflectir-se em aspectos como os seguintes:
Criar um clima de trabalho agradável, em que predominem os desafios atractivos e realizáveis e os comentários positivos;
Admitir que os praticantes não são perfeitos e que, portanto, cometem erros, erros esses que fazem parte do seu processo formativo;
Assumir que não basta uma ou algumas explicações para que os atletas passem a fazer o que se pretende (as demonstrações são fundamentais), para além disso, é necessário um período de treino por vezes alargado para que os atletas assimilem a informação que recebem;
Compreender que cada atleta tem o seu próprio ritmo de aprendizagem e respeitar esse ritmo, ajudando-os a todos, sem menosprezar os que aprendem mais devagar ou com maior dificuldades;
Ter sempre uma perspectiva realista do que se pode e deve exigir aos atletas (não pedir mais do que eles podem fazer);
Dar valor e assinalar o esforço feito pelos atletas, mais do que os resultados que conseguiram obter;
Concentrar-se nos progressos dos atletas mais do que nos defeitos que ainda possuem e destacar sempre essa melhoria, em vez de recriminar os pontos fracos;
Ter paciência quando as coisas não forem realizadas como se esperava e dar ânimo aos atletas para tentem de novo;
Analisar objectivamente os erros dos atletas e as situações difíceis do processo de treino, sempre com o objectivo de alcançar conclusões produtivas; os erros e as situações difíceis são excelentes oportunidades para saber como estão as coisas, que aspectos se devem trabalhar mais ou que pormenores devem ser alterados;
Aconteça o que acontecer, tratar sempre os atletas com respeito e carinho.
De acordo com outro autor, Styliano (1999) refere que o treinador deve estar ao serviço dos jovens e nunca servir-se deles para os seus intentos ou vaidades pessoais. Assim o autor sugere alguns pressupostos que devem orientar o treino com crianças ou jovens:
Formação, aprendizagem, paciência;
Respeito pela situação concreta de desenvolvimento de cada um;
Conduta exemplar, digna, para poder ser imitada pelos jovens;
Detecção de conflitos do jovem e procura de soluções correctas;
Estruturação dos exercícios a partir de situações iniciais mais simples para outras mais complexas;
Controlo da aprendizagem/progressão para saber sempre se está a ser devidamente compreendido, assimilado;
Apelar para a criatividade individual, deixar desenvolver o talento, por isso, nunca procurar a especialização precoce, antes porém, ir fazendo vários testes e registando as conclusões;
Os jovens devem ter sempre a cabeça levantada e procurarem corrigir falhas evidentes;
Todas as situações têm de ser apresentadas em forma de jogo/competição;
Criar uma ordem rigorosa, mas aceite com alegria (antes do jogador está o jovem como pessoa).
Para além destas preocupações gerais para toda a equipa, à que dedicar uma atenção especial ao Gr, isto é, à forma como o treinador intervêm especificamente junto do Gr, dos momentos de feedback e sobre que aspectos incide esse feedback.
A informação é transmitida sempre no inicio do exercício, através de 2 ou 3 critérios de êxito que serão a referência, não só para orientar o desempenho do jovem mas também a observação do treinador.
Em cada momento de reorganização do exercício realiza-se um reforço ou uma redefinição dos critérios de êxito caso os primeiros estejam a ser atingidos com facilidade.
No final do exercício realiza-se uma avaliação sobre o desempenho e uma ligação do exercício com o próprio jogo.
VI. Definição dos gestos técnicos de base do Guarda-redes de Futebol
Posição básica
Para Ocaña (1997) o principal objectivo do Gr consiste em evitar que a bola ultrapasse a linha de golo. Para isso ele intervêm sobre a bola mediante a realização de acções técnicas especificas. Todas as acções técnicas tem o seu inicio numa posição fundamental assumida pelo Gr, e sem a qual seria muito difícil executar as acções técnicas de forma correcta.
Para este autor a posição básica pode ser definida como a forma corporal assumida pelo Gr no sentido de facilitar a execução das acções técnicas posteriores com a máxima eficácia.
É fundamental que a execução correcta da posição básica seja feita a partir de um correcto tónus muscular. Assim a cabeça deve encontrar-se erguida de forma a acompanhar a bola com o olhar, o tronco ligeiramente inclinado à frente, braços ligeiramente flectidos e à frente com as mãos à altura dos joelhos, pernas semiflectidas e afastadas formando uma boa base de sustentação, os pés podem assumir duas posições: (a) com toda a superfície plantar em contacto com o solo; (b) apenas a parte anterior contacta com o solo.(Ocaña, 1997)
Fig. 1 - Superfície plantar para a adopção de uma correcta posição básica (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção
Ocaña (1997) refere a recepção como a utilização dos membros superiores de modo a facilitar a posse ou o controlo da bola com as mãos ou os braços, reduzindo parcial ou totalmente a velocidade da bola.
A recepção é classificada de acordo com a posição do Gr em relação à trajectória da bola, assim a recepção pode ser:
Recepção alta
Realizada acima da linha dos ombros, sempre à frente ou sobre o eixo longitudinal corporal, e com os braços estendidos (Ocaña, 1997). Esta acção técnica pode ser executada em salto ou em apoio e sempre com os polegares juntos (mãos em forma de concha).
Fig. 2 - Posição das mãos para a recepção alta (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção média
Realizada entre a linha dos ombros e a linha da cintura, as mãos situam-se no plano frontal de forma a que o corpo constitua uma segunda barreira entre a bola e a baliza (Ocaña, 1997).
Fig. 3 - Proteger sempre a bola com o corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção baixa
Segundo Ocaña (1997) esta acção técnica é realizada entre a linha da cintura e solo, com um joelho flectido e apoiado no chão, o tronco flectido à frente e com os braços estendidos(procura juntar os antebraços).
Fig. 4 - Proteger sempre a bola com o corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção em queda
Realizada, com qualquer superfície corporal em contacto com o solo (queda lateral) à excepção dos apoios plantares. Com os braços estendidos, flexão e abdução da perna que entra em contacto com o solo e dedos das mãos afastados (Ocaña, 1997). Para maior segurança, no final da acção técnica, levar a bola ao peito pressionando-a com os braços, antebraços e mãos.
Fig. 5 - Braços estendidos no prolongamento do corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção com encaixe
Para Ocaña (1997) a recepção com encaixe pode ser definido como a acção técnica que possibilita ao Gr a posse da bola através de uma única acção, reduzindo totalmente a velocidade da bola através do contacto desta contra o peito e a simultânea pressão realizada pelos antebraços e mãos contra o corpo do Gr.
Fig. 6 - É importante que a acção dos braços e antebraços seja coordenada com o impacto da bola no peito(adaptado de Ocaña, 1997).
A recepção com encaixe diferencia-se das outras acções técnicas por utilizar o peito como superfície corporal de na realização do gesto técnico.
Esta acção técnica é classificada como:
Recepção com encaixe médio
Fig. 7 - Encaixe médio (adaptado de Ocaña, 1997).
Recepção com encaixe em queda
Fig. 8 - Encaixe em queda (adaptado de Ocaña, 1997).
Desvios
De acordo com Ocaña (1997) os desvios são acções técnicas que consistem em modificar a trajectória e/ou o sentido da bola, dando-lhe uma direcção determinada com propósito defensivo.
Os desvios podem ser classificados de acordo com a superfície de contacto com a bola, deste modo temos:
Desvios com a mão - realiza-se quando a bola descreve uma trajectória área, o contacto com a bola é precedido de um deslocamento frontal e nunca deve ser efectuado em apoio. Esta acção técnica deve ser utilizada quando a recepção da bola seja inadequada ou quando a sua posse não seja garantida.
Desvios com o pé - com o novo quadro de regulamentos esta acção técnica foi valorizada.
Alguns dos erros mais comuns são desviar a bola para as zonas centrais e desviar a bola sem contudo a tirar do centro do jogo.
Colocação e orientação
Para Cabezón (2001) a colocação do Gr é fundamental para o correcto desempenho da sua função táctica. O Gr deve modificar a sua colocação em função da direcção da bola, dos seus companheiros e dos seus adversários.
O conceito de orientação do Gr surge quando este se desloca no terreno com o objectivo de intervir no jogo. Cabezón (2001) refere como pontos de referência para a orientação do Gr as esquinas da grande área, o semi-circulo da grande área e a marca da grande penalidade.
Ocaña (1997) refere que a colocação e orientação do Gr quando a equipa se encontra em posse de bola deve ter em atenção:
Evitar abandonar as zonas centrais da grande área;
Situar-se no semi-circulo da sua grande área, com o objectivo de dar profundidade à sua linha defensiva.
Saídas
Esta acção técnica é realizada pelo Gr quando saí da sua área de protecção no sentido intervir sobre a bola utilizando para tal um gesto técnico especifico (recepção ou desvios).
A execução técnica da saída divide-se em dois momentos distintos, (a) o deslocamento e (b) a intervenção sobre a bola. A bola encontra-se na posse do adversário que a conduz na direcção da baliza. Na acção de condução de bola, diferencia-se dois momentos, (1) um em que a bola se encontra fora do controlo motor do atacante (2) e outro em que o jogador está em contacto com a bola. É pois, no primeiro momento (1) que o Gr deve intervir sobre a bola, de forma rápida e decidida.
Fig. 9 - Momento da intervenção do Gr sobre a bola (adaptado de Ocaña, 1997).
As saídas, com orientação defensiva, classificam-se de acordo com o tipo de deslocamento feito pelo Gr, assim temos:
Reposição de bola em jogo
Ocaña (1997) define-a como a acção realizada pelo Gr em posse de bola com o objectivo de dar continuidade ao jogo. Em função da superfície corporal utilizada para a realização do gesto técnico, pode-se classificar a reposição de bola em jogo como reposição com o pé e reposição com a mão.
Reposição com o pé
Para uma correcta execução deste tipo de reposição é fundamental que o Gr realize em simultâneo um deslocamento frontal e uma extensão completa do braço que lança a bola para o pé.
Fig. 10 - Deslocamento frontal e extensão completa do braço que lança a bola para o pé (adaptado de Ocaña, 1997).
Alguns dos erros mais comuns na realização da reposição de bola com o pé são:
Flectir o braço que lança a bola;
Executar a reposição para fora do terreno de jogo;
Realizar o gesto técnico a partir de uma posição estática.
Reposição com a mão
Como critérios de execução para este gesto técnico o autor refere a extensão completa do braço e o olhar dirigido para a zona alvo.
Fig. 11 - Extensão completa do braço e olhar dirigido para a zona alvo (adaptado de Ocaña, 1997).
Alguns dos erros mais comuns na realização da reposição de bola com a mão são:
VII. Proposta metodológica de exercícios para os gestos técnicos de base.
Exercício 1
Forma - fundamental III
Numero - Gr + 1 + (J) x 1 + Gr
Espaço - 35 x 20 metros
Preocupações - Saídas, recepções, colocação e orientação.
Descrição - jogo reduzido no sector central (35 x 20 metros) em que a equipa em posse de bola e em superioridade numérica, após realizar 5 passes consecutivos invade a área atacante adversária, e sem oposição tenta finalizar.
Exercício 2
Forma - fundamental III
Numero - Gr + 1 (J) x 1 + Gr
Espaço - 35 x 20 metros
Preocupações - Saídas, recepções, colocação e orientação.
Descrição jogo reduzido no sector central (35 x 20 metros) em que a equipa em posse de bola e em superioridade numérica procura o golo com remates de fora da área tracejada.
Exercício 3
Forma - fundamental III
Numero - Gr + 2 + (J) x 2 + Gr
Espaço - 30 x 30 metros
Preocupações - Saídas, recepções, colocação e orientação.
Descrição - jogo reduzido, em que não existe oposição nas faixas laterais, sendo obrigatório que o jogador em posse de bola e que nelas se encontre fazer cruzamento das zonas demarcadas. A equipa em posse de bola encontra-se em superioridade numérica.
Nota
Estes exercícios são apenas um exemplo de uma metodologia de integração do treino de Gr no processo de treino de uma equipa de futebol. Não resolvem todos os problemas, mas puderam dar uma orientação ao trabalho realizado na formação do jovem Gr de Futebol.
Bibliografia
Añó, V. (1997); Planificación y Organización del Entrenamiento Juvenil; Editorial Gymnos; Madrid.
Brito, J. (1995); "A Decisão Técnico-Táctica no Jogador de Futebol, Estudo comparativo dos processos perceptivo-cognitivos inerentes à decisão técnico-táctica em sujeitos dos 12 aos 18 anos, federados e não federados em futebol", Monografia da Lic. em Ed. Física e desporto. UTAD, Vila Real.
Buceta, J. (2001), Comportamento do Treinador de Jovens no Treino; Seminário internacional Treino de Jovens "Melhores treinadores para uma melhor prática"; edições CEFD; Lisboa.
Cabezón, J. M. (2001), Proposta de un modelo de entrenamiento del portero de fútbol moderno;
http://www.efdeportes.com/
Revista Digital Efdeportes - Buenos Aires - Año 7 - N° 38 - Julio de 2001
Campbell, S. (Junho, 1998); A função do treinador no desenvolvimento do jovem atleta; Revista Treino Desportivo Ano I, Nº 3, 3ª série.
Castelo, J. (1996); Futebol, a organização do jogo; edição do autor; Lisboa.
Castelo, J. e colaboradores (1998); Metodologia do Treino Desportivo; edições FMH; Lisboa.
Cuesta, J. G. (2001); Processos de aprendizagem - da iniciação à alta competição; seminário Internacional | "melhores treinadores para uma melhor prática"; Edições CEFD; Lisboa
Esteves, A. (2000); A importância do treino especifico no guarda-redes de futebol; Tese monográfica, Utad, Vila Real
Marques, A. (1999); Crianças e Adolescentes Atletas: entre a Escola e os Centro de Treino...entre os Centro de Treino e a Escola!; Seminário Internacional Treino com Jovens; edições CEFD; Lisboa.
Oliveira, J. (1991): Especificidade, o Pós - Futebol de Pré - Futebol. Um factor condicionante do alto rendimento desportivo.; Tese monográfica, FCDEF, Porto
Pacheco, R. (2002); Ensino do Futebol, Etapas a Percorrer; Revista Training nº 7; pag. 22 - 25.
Queiroz, C. (1986); Estrutura e Organização de Exercícios de Treino em Futebol; Federação Portuguesa de Futebol; Lisboa.
Styliano, A. (1999); Futebol juvenil - um diálogo, uma necessidade ou uma exigência do futuro?; Revista Training 0/bis/99
A saída de bola pode ser feita em construção (saída curta), com a equipa a abrir em largura e em profundidade em linhas transversais e longitudinais.
A finalidade é sair a jogar para a bola entrar no meio-campo de forma a se poder preparar o jogo.
Neste caso, temos um exemplo de saída curta com o guarda-redes, que pode endossar a bola aos defesas-centrais, laterais ou ao médio-defensivo que baixa para receber entre os centrais.
Pede-se aos companheiros de equipa que criem possibilidades de recepção para se manter a posse de bola.
Os passes directos entre laterais são desaconselhados por representarem linhas de perigo.
Os passes diagonais entre centrais e laterais representam uma linha segura.
A saída de bola pode também ser feita em profundidade.
Pode-se sair a jogar, através da defesa, de forma a que a bola entre directamente no ataque ou o próprio guarda-redes pode bater a bola longa, em zonas estratégicas (por exemplo: sobre a ala ou no ponta-de-lança).
O objectivo é criar abertura de espaços na estrutura defensiva adversária e tirar partido dessa desorganização defensiva para colocar a bola.
Neste momento, pede-se compactação ofensiva, ocupação espacial (campo grande), ocupar os corredores laterais e centrais, valorização da posse de bola, aparecimento de linhas de passe, triângulos, retirar a bola da zona de pressão, circulação da bola na horizontal, paciência, sem ansiedade, sem forçar o passe e, sempre exploração do lado fraco do adversário, executar o jogo vertical no momento adequado, buscar as diagonais, fazer o jogo posicional entre os jogadores.
Seguem alguns exemplos:
Os médios devem posicionar-se de forma a criar espaços (neste caso, avançam e arrastam os médios contrários, permitindo ao médio-defensivo receber sem marcação e virar-se de frente para o jogo; mas há muitas outras movimentações possíveis):