quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ESTRATÉGIA: CARLOS CARVALHAL

Estratégia
É frequente ouvirmos os treinadores proferir afirmações antes dos jogos do tipo: para este jogo vamos ter em conta alguns aspectos importantes do adversário… Vamos tentar anular os pontos fortes do adversário e aproveitar alguns menos bons… Este adversário apresenta problemas diferentes dos outros adversários… Falta a expressão final comum a estas afirmações: no entanto, em função destas nuances estratégicas não vamos perder a nossa identidade de jogo!
Neste tipo de afirmações os treinadores estão a referir-se ao lado estratégico do jogo. O que pretendem no fundo é desenvolver um plano de jogo específico com o objectivo de “esconder” as debilidades que a sua própria equipa possui (individuais ou colectivas – organizacionais), tendo em conta os aspectos característicos do adversário, aproveitando com eficácia as debilidades que o adversário terá. No entanto, a preocupação é que esse “ajustar” de comportamentos, não seja de tal ordem que vá fazer com que a equipa altere substancialmente a sua forma de jogar.
Ao procurarmos a definição de estratégia no Dicionário de Língua Portuguesa encontramos: “um conjunto de meios e planos para tratar um fim”. Na Wikipédia, “definição de como os recursos serão colocados para se atingir determinados objectivos”.
Fui a Guimarães observar o jogo Vitória com o F.C. Porto! Fixo-me essencialmente no Porto. A minha natureza como treinador (diferente do adepto) direcciona-me para o Todo, e daí parte para as particularidades.
O F.C. Porto em posse posicionou-se da seguinte forma: bola no guarda-redes Helton, campo “grande”, defesas centrais abertos e afastados (Rolando à direita e Maicon à esquerda) com Fernando a pivot um pouco mais à frente e perto destes; numa linha mais subida e bem encostados às linhas laterais os dois defesas laterais Fucile e Álvaro Pereira; Moutinho e Belluschi abertos e em permanente posição de receber a bola, Falcão como ponta de lança em profundidade, dando amplitude e profundidade à equipa e preparado para vir jogar em apoio e Varela e Hulk bem abertos e profundos de forma a virem buscar jogo interior (posicionamento visivel na foto de cima).
Todos os homens podem ver tácticas pelas quais eu conquisto, mas o que ninguém consegue ver é a estratégia a partir da qual grandes vitórias são obtidas. Sun Tzuo em, a Arte da guerra
Conheço a dinâmica da equipa do F.C. Porto e procuro nos detalhes as diferenças (mais fácil de se fazer quando as equipas têm uma identidade bem marcada e definida como tem esta equipa). Parto do Todo e analiso o particular! Começo a estranhar, Hulk demasiado “aberto”, não procura jogo interior! Bola na esquerda em Moutinho, Belushi a pedir em profundidade nas costas da defesa do Vitória… mais uns minutos, bola em Álvaro Pereira, Falcão pede em apoio, e Bellusclhi procura profundidade entre o lateral esquerdo Teles e central João Paulo… passado pouco tempo o movimento repete-se…
Não participamos nos treinos de preparação para os jogos, e a análise e conclusões podem ser abusivas. No entanto, parece-nos claramente uma variação estratégica de forma a tentar surpreender o adversário. Falcão a atrair um dos centrais para o meio campo, Hulk bem junto à linha para que o defesa esquerdo, com preocupação individualizada sobre este, fique muito perto dele. Conclusão, grande espaço entre o defesa central e defesa esquerdo do Vitória. Criação intencional de um espaço para que outro (Belluschi vindo de linhas mais atrasadas) o pudesse aproveitar.

É visivel na foto: Hulk bem encostado á linha lateral direita com Teles perto dele; espaço entre este e o defesa central; linha representa o movimento muitas vezes efectuado por Belluschi.
Este é um exemplo como tantos outros das variantes estratégicas para um jogo. Ele não desvirtua a nossa forma de jogar, é a habilidade de analisar o TODO da posição, no fundo é saber planear a posição, inter-relacionando os jogadores e as suas posições no relvado.
O que acontece algumas vezes é que de tal forma a vertente estratégica é enfatizada e variada pelo treinador, que a equipa acaba por comprometer a sua “ideia de jogo”. Estamos a falar de uma ideia de jogo que tem princípios e uma dinâmica, na qual a inclusão exagerada da componente estratégica por parte do treinador “afoga” completamente a sua matriz de jogo. Aqui, estes comportamentos “estranhos” à dinâmica da equipa funcionam como atractores, isto é, os jogadores são de forma atraídos por esses comportamentos que deixam de ter a liberdade de pensamento para agir em função dos seu princípios de jogo, o que poderá confundir toda a dinâmica.

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